Há pessoas que não se tocam. Fazem de tudo por uns segundos
de fama e o pior de tudo isso é que acabam mesmo por tê-la, mesmo que isso
implique fazer umas figuras tristes aqui e ali. Mas isso não importa. É fama,
meus amigos, é fama! E se é esta a fama que se procura nesta nova sociedade,
sedenta de desgraças e vergonhas, talvez não seja preciso fazer muito. Digo eu.
Até a própria desgraça nacional acaba por ser anónima comparada com isto!
Porque o que é realmente interessante é a X que fez um botox e que agora mais parece uma lula mumificada, o Y que se
atirou de um segundo andar de skate
só porque é “fixe”, ou mesmo a Z que tem a mania que é cabeleireira, queima o
cabelo, filma tudo e ainda partilha no Youtube, só mesmo para ter a certeza de
que a sua estupidez é uma verdade irrevogável.
Qual
Eça de Queiroz, Madre Teresa de Calcutá ou Egas Moniz. Já nem Gil Vicente teria
palavras para descrever estes teatros se cá andasse! Mal sabia ele que, uns
séculos após a sua notável existência, surgiriam umas aves raras a dizer umas
quantas barbaridades frente a uma câmara e que, por tudo isso, imaginem só,
arrastassem multidões. Tarefa não muito difícil na realidade. Peguemos num
aparelho destes, liguemo-lo e digamos que meia dúzia são dez, ao mesmo tempo
que fazemos a cara mais idiota que nos for possível. Assunto resolvido e
matam-se dois coelhos de uma cajadada só! Passamos assim um “auto-atestado de
estupidez” e a ser seguidos por outros tantos ao mesmo nível de inteligência.
Não é fantástico?
Não.
A verdade é que é deveras deprimente. Como diria o outro, afinal onde está a
consistência? Num rapaz que não sabe que opção sexual tomar e que teima em
manifestar-se aparentemente seguro de si? Ou numa miúda obesa e mal-educada que
“arrota postas de pescada” sobre o que os outros vestem e calçam só porque sim?
Extrema
necessidade de afirmação que leva a esta maldita crise de valores e de mais
sabe-se lá o quê que também está em crise nas cabeças desta gente. O que há a
fazer? Nada. Sorrir, acenar e esperar que estas criaturas que (sabe-se lá como)
se auto-intitulam de “profissionais do Youtube” se dignem a bater com a cabeça
na testa, como diria um meu antigo professor do secundário, já como que a
prever todo este cenário, coitado.
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