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Mensagens

A mostrar mensagens de janeiro, 2019

Quando um "obrigada" não chega

Caminhei em direção à mesa onde se daria o início de uma nova etapa. A cada passo, sentia o coração tremelicar de receio, de vergonha. Estava prestes a desembrulhar o melhor presente de Natal possível e, uma vez que era o melhor, chegaria com alguns dias de atraso. Ao atravessar aquela sala que, embora pequena, me parecera enorme, sentei-me no lugar do meio, lado a lado com quem me ia ajudar a explicar à assistência o que era isto de sonhar dia e noite com letras, com amores loucos e finais emotivos. Ainda a medo, comecei o discurso, que fluiu com a ajuda de um texto que, na verdade, ilustrava na perfeição o que queria transmitir. Não tudo, porque o essencial guardei para mim, para que fosse possível manter a postura. Terminei. Aqueles cinco longos minutos antecederam um aplauso de quem me ouvira. Era estranho ser aplaudida por fazer apenas aquilo de que gostava. Estranho mas agradável, ficando-me na boca o sabor do orgulho e nos lábios o reflexo da minha realização, num enorme

Sorriso em pó

Deambulávamos pela casa como duas crianças esbaforidas à procura de um doce. À procura da doçura que era aquele prazer megalómano que se agarrava às paredes que pareciam tremer, ou às nossas roupas que, num piscar de olhos, desapareceram. Caíram sobre a tijoleira fria, sobre aquele chão sujo daquele lugar que já não era de ninguém. Lá fora chovia. Cá dentro, um calor de morte. Suávamos como se sua no deserto, apertávamos as mãos como quem passeia pelas ruas da cidade. Quanto mais os arbustos gemiam, mais o meu corpo abanava sobre ti e sobre as tuas palavras grotescas, que surgiam como fumo de um grande incêndio. Era noite, noite cerrada. Apesar do calor, algo nos arrepiara os poros e, aos poucos, nos tornava inertes e sombrios. Sem querer, deixaras cair o sorriso e eu apressei-me a apanhá-lo. Com cuidado, aconcheguei-o dentro da conchinha que fizera com as duas mãos. Não queria que quebrasse mas estava frágil. Frágil demais para aguentar o frio que, aos poucos, te ia dominando e g