A chuva bate no vidro, ao sabor do vento, enquanto leio mais um dos meus romances. O fumo branco do meu chá quente sobe até ao tecto como se levitasse e, a cada gole, lembro-me do quão quente é o teu abraço. A noite sussurra dentro das próprias paredes e chega a ser assustadora, à medida que o vento vai soprando, que as páginas do meu livro se vão virando e que o meu chá vai arrefecendo. A noite é longa demais sem ti, sem essa tua vontade de seres nós junto comigo, sem essa doçura que trazes na ponta dos dedos e me aquece cada recanto, cada pedacinho de alma que, outrora, parecia ter congelado para sempre. És o "nós" que me faltava, és o amor que a minha boca queria dizer e que o peito, sem querer, já sente. Nos teus olhos vejo todos os lugares aonde quero ir e os mundos que, juntos, temos para conhecer. O teu sorriso ilumina-me a noite escura, como uma candeia brilhante no breu denso. É aqui que vou ficar. E quem sabe se um dia não será para sempre.
Gritei, insultei, peguei na chave do carro e corri, na tentativa de fugir da chuva. Não fechei a porta de tua casa; sabia que, de alguma forma, o farias. Entrei no carro. A água escorregava pelos vidros como que querendo limpar tudo o que acabara de acontecer dentro daquelas quatro paredes. Olhei em volta. A chuva era cada vez mais intensa e o vento fazia baloiçar as copas dos plátanos que cercavam o bairro. E se fosse aquela a última vez que nos víssemos? A pergunta ecoou na minha cabeça durante alguns minutos. Foram os minutos suficientes para que entendesse que arrancar com o carro não seria a atitude mais sensata. E se não te voltasse a ver, seria aquele azedume que iria querer que sobrevoasse a nossa despedida? Saí do carro a correr em direção à tua porta, já fechada. Toquei à campainha e senti a tua presença do outro lado. Abriste de imediato e abraçaste-me, com o abraço forte do costume, capaz de envolver e proteger uma cidade inteira. - Gosto muito de ti. - murmurei. Estas pala