Meia-noite, domingo. Mais um dia normal dentro da normalidade possível que é estar fechada em casa, à espera que o tempo passe, enquanto a vida teima em não acontecer lá fora. É um misto de sentimentos; o desejo de que a Primavera chegue em pleno para que os pássaros cantem de manhã à noite e uma vontade inconsciente de que a chuva e o céu triste fiquem por aqui até que, finalmente, se possa sair à rua sem receio de falar, tocar ou chegar perto de quem gostamos ou de, simplesmente, trocar dois ou três dedos de conversa com a funcionária do supermercado. Seja quando for esse tão desejado regresso à vida normal, já nada vai ser normal. O medo, esse, vai permanecer durante muito tempo até que nos sintamos de novo seguros ao pisar o chão que todos pisam, ao frequentar lugares que todos frequentam, ao viver sem máscaras, luvas e más notícias. Quando não estou ocupada, invento para me ocupar. A rotina é, agora, mais rotineira do que nunca; dantes, sair de casa para trabalhar era apenas