"Não me consigo dar". Dito isto, despediu-se com uma pancadinha seca nas minhas costas e caminhou rua abaixo, enquanto eu digeria e decifrava aquelas palavras ditas num tom autista, vazio, distante. Não se conseguia dar porque já se tinha dado. E continuava ali, imóvel à passagem do tempo, que chegava e partia vezes sem conta. Afundara-se no azul daqueles olhos esquivos, de quem lhe dava tudo e nada, dia e noite num só segundo. E era aquela intensidade que o fazia querer sentir tudo outra vez. Em cada beijo, cada olhar, cada toque, procurava um brilho que se dissipara fazia tempo. Só ele não o sabia ainda. Ainda se sentava naquela cadeira da esplanada do costume, em busca da mesma companhia; vestia aquela camisa, na esperança de sentir o cheiro do corpo dela, que não o voltara a envolver. Em casa, perdia-se em pensamentos e cozinhava o prato que ela tanto adorava, na esperança de a ver entrar pela cozinha com mil e um "obrigados" na voz e um abraço terno, c