Gritei, insultei, peguei na chave do carro e corri, na tentativa de fugir da chuva. Não fechei a porta de tua casa; sabia que, de alguma forma, o farias. Entrei no carro. A água escorregava pelos vidros como que querendo limpar tudo o que acabara de acontecer dentro daquelas quatro paredes. Olhei em volta. A chuva era cada vez mais intensa e o vento fazia baloiçar as copas dos plátanos que cercavam o bairro. E se fosse aquela a última vez que nos víssemos? A pergunta ecoou na minha cabeça durante alguns minutos. Foram os minutos suficientes para que entendesse que arrancar com o carro não seria a atitude mais sensata. E se não te voltasse a ver, seria aquele azedume que iria querer que sobrevoasse a nossa despedida? Saí do carro a correr em direção à tua porta, já fechada. Toquei à campainha e senti a tua presença do outro lado. Abriste de imediato e abraçaste-me, com o abraço forte do costume, capaz de envolver e proteger uma cidade inteira. - Gosto muito de ti. - murmurei. Estas pala