- Sim. Sabes quem é? - perguntou a Cila.
Congelei. Fiquei inerte perante o que acabara de ouvir. Só podia ser "aquele" Rui! O Rui que me olhava e sorria daquele jeito tão cativante e único...estaria agora numa cama de hospital?! Tinha de o comprovar.
Respondi negativamente e evitei o assunto. Ao sair do salão, tinha já o cabelo reluzente em tons de mel. Sentia-me agora capaz de ir de novo a casa do Rui, tocar-lhe à campainha e perceber que não havia sido um equívoco. Ele era, com toda a certeza, apenas mais um homem, pleno de futilidades.
Aproximei-me do portão. Respirei fundo e entrei, atravessando o jardim. As flores continuavam secas e o espaço, morto como dantes, trazia-me a nostalgia de há apenas dois dias atrás.
Toquei à campainha. Respirei fundo de novo. Longos segundos antecederam a abertura daquela porta por uma mulher que não reconheci. Tal como o Rui, era morena. De cabelos longos e escuros e de roupas pouco formais, mostrou-se apressada, fitando-me com um olhar fugaz e triste.
- Boa tarde. Diga...
Senti a voz tremer-lhe. Receosa, esbocei um leve sorriso.
- Boa tarde. O meu nome é Teresa, sou amiga do Rui. Ele está?
Ela baixou a cabeça e seguiu-se um silêncio aterrorizador. Ergueu de novo o rosto, passando as mãos, trémulas, pela face, visivelmente cansada. Impaciente, irrompi na ausência de resposta.
- O que se passa? Ele está bem?
Ela respirou fundo.
- O meu irmão teve um acidente. Está em coma no hospital.
O chão acabara de me fugir dos pés. O céu desabara-me e cima por completo.
- ...posso dizer-lhe qual é o hospital... - murmurou.
Não hesitei.
Fui buscar o meu carro e voei até lá. Conduzi rápida e descontroladamente. Ansiava por novidades e por ver, com os meus olhos, aquele homem, outrora de aparência forte e agora, certamente, frágil e vulnerável.
Depois de passar pela recepção do hospital, percorri os corredores daquele lugar, tão impessoal, até ao quarto do Rui. Vi doentes, auxiliares, médicos. O meu coração, apertado, ia batendo de forma descompassada, na ânsia de encontrar o número "cinco" na tabuleta de uma qualquer porta daquele corredor, iluminado pela luz vinda de enormes e imponentes janelas.
Chegara. A porta estava fechada. Encostei-me a ela, tentando ouvir qualquer som no interior. Silêncio absoluto. Lentamente, abri a porta, com algum receio do que iria encontrar.
Comentários
Enviar um comentário
Palavra a palavra, a tua opinião faz magia...experimenta!