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A segunda chance - parte XIII

Vieras buscá-la. O sorriso tímido estampara-se-lhe no rosto, cheio de vontade de levar pai e mãe juntos, talvez num passeio pelo parque. Pus-lhe a pequena mochila cor-de-rosa às costas e, de mãos dadas, caminhámos rumo ao portão. A custo, controlei a queda de várias lágrimas. Relativizei. Afinal eram só dois dias.
- Adeus mamã! - disse ela, abraçando-se ao meu pescoço.
- Até amanhã meu amor, porta-te bem e faz o que o papá mandar, sim?
- Está bem.
Peguei-lhe ao colo e, num abraço apertado, recheado de beijinhos ternurentos nas bochechas, despedi-me, ficando a ver-vos partir.
Voltei para dentro. Agora sim, corriam várias lágrimas pelo meu rosto fora. O dia caminhava com raios de Sol que entravam de rompante pela janela da sala mas, cá dentro, vigorava uma tempestade num céu cinzento e escuro. A casa estava vazia, nua de tudo.
"A Leonor está bem", repetira para mim mesma durante aquela manhã turbulenta. Apenas diante dos meus olhos poderia comprová-lo. Com sorte, as horas passariam depressa até ao dia seguinte, dia em que a teria de volta.

Decidira visitar o Rui naquela tarde. Por mais difícil que fosse o seu acordar, ir ao hospital e vê-o fazia-me sentir um pouco melhor, principalmente naquele dia. Desta vez saíra de casa à pressa, sem qualquer objecto que lhe pudesse estimular os sentidos. Tive uma ideia melhor. Ao fundo da rua, parei numa tabacaria para comprar uma revista. Daquelas da fama e de vidas retiradas directamente do País das Maravilhas. Enquanto lhe lesse algumas coisas, manter-me-ia também entretida em pensamentos e vidas alheias. 
A viagem fora rápida, não havia trânsito. Chegara ao hospital. Sabia já de cor os corredores rumo ao quarto do Rui. Sem fazer barulho, entrei no quarto. Olhei para ele. A sua postura mantinha-se intacta desde a minha última visita. No entanto, alguns dos tubos haviam desaparecido, descobrindo-lhe parte do rosto. Como era bom observar um pouco mais do Rui, vendo-lhe melhor a alma!
Sentei-me no divã e tirei da mala a revista. Enquanto lia, segurava a mão dele. Queria manter-me próxima daquele mundo que me era desconhecido mas ao qual, dia após dia, me ia acostumando.
Li e dissertei notícias do mundo cor-de-rosa durante uma hora que passara a correr.
Sem saber, o Rui ficara a par de tudo o que havia para saber no mundo dos famosos; os divórcios, as plásticas, as festas e, ao pensar nisso, esbocei um leve sorriso que, certamente, se transformaria em gargalhada caso partilhasse os meus pensamentos com alguém.
Levantei-me e, sem lhe largar a mão, despedi-me com um leve beijo na testa. Num leve espasmo, as suas pálpebras estremeceram, tal como a sua mão. A esperança voltara àquele lugar. Seriam sinais?
Observei-o durante mais alguns minutos, ali bem perto. Chamei o seu nome, mas fora em vão. Ergui-me perante a cama e caminhei, insegura, em direcção à porta do quarto.
- Sofia...Sofia... - ouvira alguém chamar enquanto saía. 


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