“Faz boa viagem, que corra tudo bem”
Das últimas palavras sãs e felizes que te ouvi dizer.
Ironia da vida, dali em diante nada correu bem e foste tu quem partiu numa viagem sem volta.
E passaram dois meses, sessenta e dois penosos dias desde que alguém te ditou o caminho que desconhecias e ao qual anuíste. Correste até ele sem nos dizeres como. Talvez com receio, hesitação, talvez até mesmo com medo do desconhecido em quem confiaste. Mas partiste.
Não sei se partiste feliz, mas quero acreditar que sim. Não quero imaginar o teu sofrimento, quero apenas respirar de alívio por ter terminado. Não quero ponderar sequer a ideia de teres desaparecido, porque quero acreditar que, de uma forma qualquer, permaneces aqui.
Mas agora…agora não há volta a dar. Não voltarei a sentir a tua mão enorme acariciar-me a cabeça como fazias quando era pequenina. Não te voltarás a perder em histórias do passado, histórias de vida, de sacrifício, mas acima de tudo de amor, com as quais nos deixavas o coração apertado quando, nas palavras, sentíamos a tua voz vacilar no seio da emoção. Não voltarei a passear contigo pela mão até à escola, nos dias frios de Inverno, nem a visitar a estação dos comboios na qual me ensinaste o nome de cada um deles, falando-me sobre vivências que outrora, ali, naquele lugar, haviam sido tuas.
Não voltarei a descer as escadas e a encontrar-te concentrado nos teus jogos de cartas, nos teus quebra-cabeças, nos diários que escrevias, talvez com medo de, um dia, esqueceres o que de bom tiveras da vida. Não colocarás de novo o teu velho gira-discos a trabalhar, mostrando-me os fados e as canções francesas de que tanto gostavas na tua juventude. Canções que, queira ou não, ainda sei quase de cor, acreditas?
Não aprenderei mais contigo como consertar objetos na tua oficina que, de tão pequenina, se tornara grande graças ao teu método e organização. Os anos foram passando mas, lá dentro, ao fundo, junto à secretária, sempre existiu um papel onde se lia, cuidadosamente escrita por ti a escantilhão, a frase “Um lugar para cada coisa; cada coisa no seu lugar”. É, os anos foram voando mas a cada dia que passa desde que partiste, esta frase faz mais sentido, contrariamente à tua partida.
Não voltaremos a passar longas tardes naquele lugar a conversar, a desfiar ideias, momentos, memórias e a única coisa que ainda me irás tentar ensinar, eu recuso-me a aprendê-la. Recuso-me a aprender a esquecer-te, a arrumar-te num caixote, dentro do coração, como se faz com tudo quanto é antigo, com tudo quanto faz falta, porque sim, porque tu me fazes falta e eu recuso-me a habituar a essa ideia de que a vida é efémera e que, num segundo, nos rouba vivências e momentos.
Mas sabes? Não deixarei que isso aconteça. Não deixarei que as memórias partam contigo e me dispam de ti, de tudo o que me ensinaste e dos momentos que passámos juntos e que hoje sabem a pouco. A cada beijo do vento no meu rosto, a cada pôr-do-Sol que ainda resta do Verão quente, sei que estás aqui, comigo. Sei que terei o teu olhar atento sobre mim, sobre os meus passos, sobre as minhas vitórias e fracassos. Sei que, a cada vez que me deixar cair, terei o amparo da tua mão, forte e confiante e essa certeza faz-me acreditar que, um dia, lá longe no futuro, te verei chegar de novo da tua caminhada de todos os dias, com aquela boa disposição...
Sinto-te a emoção nos olhos ao saber destas palavras que, de uma forma ou de outra, te tocarão. Hoje, abraçar-te-ia sem receios. Abraçar-te-ia indiscriminadamente tal como deveria ter feito, consciente de que amanhã poderia ser tarde demais para te voltar a ver.
Das últimas palavras sãs e felizes que te ouvi dizer.
Ironia da vida, dali em diante nada correu bem e foste tu quem partiu numa viagem sem volta.
E passaram dois meses, sessenta e dois penosos dias desde que alguém te ditou o caminho que desconhecias e ao qual anuíste. Correste até ele sem nos dizeres como. Talvez com receio, hesitação, talvez até mesmo com medo do desconhecido em quem confiaste. Mas partiste.
Não sei se partiste feliz, mas quero acreditar que sim. Não quero imaginar o teu sofrimento, quero apenas respirar de alívio por ter terminado. Não quero ponderar sequer a ideia de teres desaparecido, porque quero acreditar que, de uma forma qualquer, permaneces aqui.
Mas agora…agora não há volta a dar. Não voltarei a sentir a tua mão enorme acariciar-me a cabeça como fazias quando era pequenina. Não te voltarás a perder em histórias do passado, histórias de vida, de sacrifício, mas acima de tudo de amor, com as quais nos deixavas o coração apertado quando, nas palavras, sentíamos a tua voz vacilar no seio da emoção. Não voltarei a passear contigo pela mão até à escola, nos dias frios de Inverno, nem a visitar a estação dos comboios na qual me ensinaste o nome de cada um deles, falando-me sobre vivências que outrora, ali, naquele lugar, haviam sido tuas.
Não voltarei a descer as escadas e a encontrar-te concentrado nos teus jogos de cartas, nos teus quebra-cabeças, nos diários que escrevias, talvez com medo de, um dia, esqueceres o que de bom tiveras da vida. Não colocarás de novo o teu velho gira-discos a trabalhar, mostrando-me os fados e as canções francesas de que tanto gostavas na tua juventude. Canções que, queira ou não, ainda sei quase de cor, acreditas?
Não aprenderei mais contigo como consertar objetos na tua oficina que, de tão pequenina, se tornara grande graças ao teu método e organização. Os anos foram passando mas, lá dentro, ao fundo, junto à secretária, sempre existiu um papel onde se lia, cuidadosamente escrita por ti a escantilhão, a frase “Um lugar para cada coisa; cada coisa no seu lugar”. É, os anos foram voando mas a cada dia que passa desde que partiste, esta frase faz mais sentido, contrariamente à tua partida.
Não voltaremos a passar longas tardes naquele lugar a conversar, a desfiar ideias, momentos, memórias e a única coisa que ainda me irás tentar ensinar, eu recuso-me a aprendê-la. Recuso-me a aprender a esquecer-te, a arrumar-te num caixote, dentro do coração, como se faz com tudo quanto é antigo, com tudo quanto faz falta, porque sim, porque tu me fazes falta e eu recuso-me a habituar a essa ideia de que a vida é efémera e que, num segundo, nos rouba vivências e momentos.
Mas sabes? Não deixarei que isso aconteça. Não deixarei que as memórias partam contigo e me dispam de ti, de tudo o que me ensinaste e dos momentos que passámos juntos e que hoje sabem a pouco. A cada beijo do vento no meu rosto, a cada pôr-do-Sol que ainda resta do Verão quente, sei que estás aqui, comigo. Sei que terei o teu olhar atento sobre mim, sobre os meus passos, sobre as minhas vitórias e fracassos. Sei que, a cada vez que me deixar cair, terei o amparo da tua mão, forte e confiante e essa certeza faz-me acreditar que, um dia, lá longe no futuro, te verei chegar de novo da tua caminhada de todos os dias, com aquela boa disposição...
Sinto-te a emoção nos olhos ao saber destas palavras que, de uma forma ou de outra, te tocarão. Hoje, abraçar-te-ia sem receios. Abraçar-te-ia indiscriminadamente tal como deveria ter feito, consciente de que amanhã poderia ser tarde demais para te voltar a ver.
SÓ não te vejo e esse tão grande “só” faz com que, inevitavelmente, o dia 29 de cada mês me deixe o coração apertado, me encha os olhos de lágrimas e a mente de recordações. Recordações de amor. Amor com saudade.
Até sempre. Até um dia.
Até sempre. Até um dia.
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