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Passo em frente

Ganhou coragem e caminhou na direção para a qual sempre lhe faltara a coragem para caminhar. Subiu até ao terceiro andar daquele prédio quase inóspito, bateu à porta e esperou ansiosamente ouvir passos do lado oposto.
Ao ver que a porta se abrira, olhou-lhe nos olhos e esboçou um ténue sorriso. Abraçou-o como quem abraça o sufoco da morte e deixou-se ficar. Deixou-se ficar com a cabeça sobre o ombro dele enquanto a chuva dançante lá fora embalava cada suspiro.
Lentamente, lágrimas escorreram-lhe pelo rosto. O bater do coração dele parecia completá-la e iluminar-lhe o caminho de regresso a casa.
Sem balbuciar qualquer palavra, pegou no rosto dele e enxergou bem nos seus olhos em busca de uma resposta. De rosto fechado, ele baixou o olhar e sorriu como se ninguém visse.
Um abraço forte unira-os de novo. Baixinho, um sussurro no ouvido fizera-a sorrir como nunca antes.
Enchera-o de beijos no rosto, na testa, como se o mundo fosse acabar. Queria aproveitar aquele momento, desvendar segredos, descobrir magias e estórias escondidas no seio daquele peito tão resguardado pelas amarguras da vida.
Confiante, ele piscara-lhe o olho e, juntos, caminharam rumo a lugar algum, em busca de todos os lugares do mundo. A chuva ainda dançava por ali e ela correra sozinha pela estrada fora em busca do lugar onde aquela dança terminaria.
Ele ficara imóvel de sorriso rasgado a observar aquele espetáculo a que há tanto tempo queria assistir.
Abriu os braços e tentou ouvir as palavras que cada gota de chuva lhe ia trazendo, à medida que o vento lhes balançava o destino. Era uma noite feliz e, só por isso, todo aquele tempo valera a pena.

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