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História de Natal

Naquele ano, a quadra era diferente. Longe de todos, num Mundo que não era o seu, passara a véspera de Natal a folhear os antigos álbuns de fotografias que a mãe lhe oferecera antes de partir. Era doloroso, mas havia um futuro em causa. Havia que lutar por ele.
Chegada a meia-noite, haviam apenas dois presentes debaixo da árvore.
“Este é para ti, apesar de já saberes o que é.” – disse, enquanto entregava o embrulho a Filipe, o namorado, que a acompanhara naquela aventura de partir rumo ao desconhecido.
“Este é o teu. Vá, abre!” – disse Filipe.
Pegou no presente e apressou-se a desembrulhá-lo. Ao abrir aquela caixa tão pequenina, encontrara um anel e um cartão que dizia “Queres casar comigo?”. Desfez-se em lágrimas, lágrimas de felicidade e surpresa. Abraçou-o e sorriu. A resposta era evidente.
Músicas de Natal vindas do antigo gira-discos do avô José ecoavam pelo salão e, aos poucos, ia sentindo a presença de todos os ausentes naquela noite, tão fria, mas tão aconchegante.
Dançaram pela noite fora, como que em jeito de ensaio para o grande dia. A casa estava vazia mas a felicidade de ambos enchia o espaço como nunca antes.
Lá fora a neve caía, pintando de branco a vegetação, os telhados e os bancos do jardim. Dentro de casa, a lareira ia queimando a madeira e compassando aquele serão. O chocolate quente no fim da noite confortara-lhes ainda mais a alma depois de tamanha surpresa. Conversaram noite dentro como se aquele fosse o primeiro dia das suas vidas. Joana tornara-se noiva e era uma mulher feliz. Adormecera com um sorriso nos lábios sobre o braço de Filipe.
Naquele ano, o Natal ganhara um brilho especial e tinha, agora, mais sentido. Apesar de longe do seu Mundo, estavam juntos e juntos atenuavam a saudade, desfiando memórias, percebendo que, afinal, o amor sempre lá estivera.

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