Dormia. Dormia descansada
noite dentro. Tudo porque acreditava que se pedisse ao menino Jesus que me
protegesse o soninho ele o ia fazer. Era bem pequenina mas já rezava como os
crescidos e era feliz. Era feliz e, mesmo que ensonada, fazia o que a avó pedia,
para poder “dormir descansada”, dizia ela. Hoje os abraços são diferentes, mais
sentidos e conscientes. Conscientes de que o tempo vai passando por nós e que,
aos poucos, vamos indo atrás dele.
Era feliz quando passava os dias a fazer desenhos e a falar com os passarinhos do avô António, que tinha uma paixão por aves e as tratava como ninguém. E sempre que eu pedia, o avô pegava-me ao colo para chegar perto da gaiola e lhes dar um bocadinho de maçã. Gostava de o ver amassar o pão e a broa de milho e de, às escondidas, lhe roubar pedacinhos de massa. Os sabores continuam na minha memória, tal como ele, o “terrível” avô António que impunha respeito do alto da sua baixa estatura.
Era feliz quando passava os dias a fazer desenhos e a falar com os passarinhos do avô António, que tinha uma paixão por aves e as tratava como ninguém. E sempre que eu pedia, o avô pegava-me ao colo para chegar perto da gaiola e lhes dar um bocadinho de maçã. Gostava de o ver amassar o pão e a broa de milho e de, às escondidas, lhe roubar pedacinhos de massa. Os sabores continuam na minha memória, tal como ele, o “terrível” avô António que impunha respeito do alto da sua baixa estatura.
Os dias eram mais felizes com as graças da avó, que da desgraça fazia humor. Acreditava
que, cantando para mim, eu adormeceria em paz e sonharia com fadas e duendes.
Cresci a vê-la cozinhar como ninguém e a fugir da palmada certeira quando fazia
algum disparate. Com a calma do costume, lá intercedia o avô Luiz, mas Luiz com
Z, como fazia questão de acrescentar sempre. Tinha as mãos grandes e o coração ainda
maior, de alma sensível e leal como os amigos devem ser. Era escuteiro com orgulho
e gostava de contar histórias; histórias sobre África e sobre comboios que a
vida lhe mostrou e ensinou a contar. Histórias reais em que, por vezes, a
comoção e nostalgia falavam mais alto. Hoje é uma estrela e, apesar de não dar por
ela, sinto-a bem presente nas minhas vitórias e derrotas e, acima de tudo, no
rosto do meu pai.
Hoje é dia dos avós e as saudades quase matam. A distância até ao infinito é inalcançável e ao recordá-la, as memórias avivam-se. Os nomes cheiram a infância e a vontade de voltar atrás no tempo. Mas apesar de não continuar a rezar nem a precisar de açoites, continuo a ser bem pequenina ao pé das minhas avós que, mesmo sem armadura, são verdadeiras guerreiras nesta batalha a que chamamos de vida.
Hoje é dia dos avós e as saudades quase matam. A distância até ao infinito é inalcançável e ao recordá-la, as memórias avivam-se. Os nomes cheiram a infância e a vontade de voltar atrás no tempo. Mas apesar de não continuar a rezar nem a precisar de açoites, continuo a ser bem pequenina ao pé das minhas avós que, mesmo sem armadura, são verdadeiras guerreiras nesta batalha a que chamamos de vida.
Muito bom, lembro-me muito bem desta altura. Continua a escrever "levas" geito. um bj grande
ResponderEliminarObrigada Susana, beijinhos :)
ResponderEliminar