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Rimas

Escrevi-te um poema.
Um poema curto mas intenso, ténue e rico. Repleto de metáforas, de sinestesias, de romance, de fantasias.
O nosso mundo passou a rimar com a mão dada, com o beijo apaixonado dentro da sala, às escondidas do olhar reprovador dos professores. Rimou com a corrida entusiasta que fazias no intervalo só para não me veres entrar na aula e ficarmos mais um par de horas afastados daquele arfar de desejo, daquele sorriso parvo no rosto. Rimou com o vermelhão nas minhas bochechas sempre que te via chegar, lá ao fundo, na mota do teu irmão.
Quis que, por magia, o nosso mundo rimasse também com o eterno, mas sabia ser impossível. Sabia que éramos novos demais para algo tão maduro. Éramos jovens, alucinados, loucos, apaixonados...mas felizes. A intensidade tomou conta daquilo que achávamos ser para sempre e partiu, deixando-nos a vontade de virar a página.
Quis colar este poema bem no teu peito, mas recuei. Recuei e guardei-o só para mim, para ler em dias de chuva, quando a noite aconchegasse as ruas e o vento abraçasse as árvores da praceta. Quando já nada me restasse se não as memórias do meu sorriso quando ainda existias em mim. Para que as gotas das minhas lágrimas esborratassem a tinta da caneta que escreveu tal disparate.
Mas agora, que aqui não existes, não leio. Não te leio nem lembro. E já que as minhas lágrimas não ensoparam a folha daquele caderno, não faz sentido voltar-te a escrever.

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