Como “prima-quase-irmã” mais velha, passei a ser a líder; eu ordenava, ela fazia, eu gritava e ela ficava em silêncio. Até mesmo quando, naqueles fins de tarde na barragem, ela me roubava as braçadeiras. Eu amuava e ela, como não conseguia ver-me zangada, devolvia-me tudo de imediato, até o sorriso, só para poder ter o meu de volta.
Os dias na casa dos avós tinham outro sabor. Os desenhos, as pinturas, os invernos à lareira, o café com leite e o cheiro a torradas de pão caseiro. Até o gaio de estimação do avô dizia os nomes das duas, como que a prever a relação de cumplicidade que ali começava a dar os primeiros passos.
A vida encarregou-se de nos dar percursos diferentes, distâncias megalómanas, estilos de vida opostos. A Chica é aventureira; viaja pelo mundo no seu “barquinho” que poderia ser de papel, para que fosse mais fácil pegar nele e voltar para casa. Para que fosse menos exigente de o conduzir ao destino e lhe roubasse menos tempo, menos esforço, menos quilómetros.
Mas, apesar da distância, a Chica está sempre presente nos momentos importantes e nos menos importantes também. O México parece estar mesmo aqui ao lado com uma chamada pelo Whatsapp e, ao clicar no botão vermelho, as férias de Verão em Lagos parecem ter terminado ainda ontem, quando, despreocupadamente, passávamos semanas na praia, suspensas no tempo, naquele cantinho à beira-mar, com uma fina camada de sal sobre a pele morena e o cheiro quente de churrascadas que se prolongavam tarde fora.
De uma das prateleiras da
sala, retiro uma cassete VHS. O pó denuncia as memórias longínquas, a saudade. Gargalhadas
inevitáveis, sorrisos constantes. O futuro ficava ainda bem longe, visto de lá do
fundo, dos nossos pequenos oito anos.
Hoje, vemos esse futuro no presente, a um palmo de distância dos sonhos, desilusões, vitórias e fracassos banais de uma vida. Olhamos para trás e vemos a Mariana dançar, cantar, brincar com bonecas e a Chica, envolta numa confusão de peças de puzzle durante horas a fio, seguidas de remadas na barragem, ainda incertas.
Olhamos para trás e, sem surpresa, voltaríamos sem pestanejar. Mas se a distância fortaleceu os laços e o amor encurtou os oceanos, hoje somos mulheres de fibra e irmãs para a vida toda!
Hoje, vemos esse futuro no presente, a um palmo de distância dos sonhos, desilusões, vitórias e fracassos banais de uma vida. Olhamos para trás e vemos a Mariana dançar, cantar, brincar com bonecas e a Chica, envolta numa confusão de peças de puzzle durante horas a fio, seguidas de remadas na barragem, ainda incertas.
Olhamos para trás e, sem surpresa, voltaríamos sem pestanejar. Mas se a distância fortaleceu os laços e o amor encurtou os oceanos, hoje somos mulheres de fibra e irmãs para a vida toda!
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