Faltava apenas a estrela no topo. As luzes coloridas e trémulas já envolviam aquele pinheiro artificial que fazia as delícias do mais pequenino, cujos olhos não tinham ainda a noção do que significavam todos aqueles brilhos, aqueles sons, aquela energia contagiante.
Pegou-lhe ao colo para que pudesse, ele mesmo, colocar aquela estrela, enorme e dourada, com as suas mãozinhas, inseguras. Era o primeiro Natal com um lugar a menos na mesa, com menos uma gargalhada na hora de distribuir os presentes e talvez com algumas lágrimas escondidas.
Era o primeiro Natal do Dinis e só isso bastaria para alegrar aquela casa, tão vazia de pessoas mas tão cheia de amor.
Os últimos meses haviam sido tenebrosos. Entre hospitais e lugares impessoais, entre o cheiro a doença e o vaguear da morte em cada um daqueles corredores, desaprendera a sorrir e caíra no chão ao correr atrás dela; não da morte, mas da vida da Sofia. Juntos, haviam até rapado o cabelo para que, pelo menos nisso, fossem os três iguais.
Agora era tempo de se reerguer e seguir o caminho que, sem saber, estaria traçado. O cabelo haveria de crescer, tal como o Dinis e as saudades, já incomensuráveis. Porque seria tão difícil caminhar em frente quando só queria voltar atrás no tempo? Porque é que ela lhe havia dito que seria para sempre e partira sem esperar por ele?
Sentia-se pesado, revoltado, vazio. Queria desesperadamente poder telefonar para aquele lugar incerto, ouvir a sua voz doce e ordenar-lhe que voltasse. Sim, era uma ordem, voltar e preencher de novo as suas vidas! Simultaneamente, a gargalhada do pequeno Dinis, enchia-lhe a casa, a alma, a vida. Era o som que bastava para uma espécie de Natal perfeito, para ele e para os que haviam ficado também de coração apertado.
Queria mentalizar-se de que a Sofia estaria ali durante toda a noite a ouvir as conversas entre neto e avó babada, a rir à gargalhada quando o Dinis cuspisse a sopa e sujasse o macacão natalício que teria vestido, de xadrez verde e vermelho. A tentar adivinhar quem seria o seu amigo secreto desta vez, a consolar-se com os coscorões da avó Matilde e a rir. A rir muito como sempre fazia. Uma gargalhada que aquecia mais do que qualquer lareira em noite de consoada. Uma gargalhada que se apagara e esfriara para sempre parte da sua alma.
Era a vida. Frase que repetia para si sempre que estes pensamentos lhe irrompiam pela ideia adentro. Era a vida a seguir, a continuar, a prolongar-se e a querer dar-lhe um motivo mais que válido para ficar. O seu lugar era ali, junto do seu melhor presente. O Natal estaria em si, tal como a Sofia, cada dia mais um bocadinho. O Natal era amor, que mesmo invisível, não estaria ausente.
Pegou-lhe ao colo para que pudesse, ele mesmo, colocar aquela estrela, enorme e dourada, com as suas mãozinhas, inseguras. Era o primeiro Natal com um lugar a menos na mesa, com menos uma gargalhada na hora de distribuir os presentes e talvez com algumas lágrimas escondidas.
Era o primeiro Natal do Dinis e só isso bastaria para alegrar aquela casa, tão vazia de pessoas mas tão cheia de amor.
Os últimos meses haviam sido tenebrosos. Entre hospitais e lugares impessoais, entre o cheiro a doença e o vaguear da morte em cada um daqueles corredores, desaprendera a sorrir e caíra no chão ao correr atrás dela; não da morte, mas da vida da Sofia. Juntos, haviam até rapado o cabelo para que, pelo menos nisso, fossem os três iguais.
Agora era tempo de se reerguer e seguir o caminho que, sem saber, estaria traçado. O cabelo haveria de crescer, tal como o Dinis e as saudades, já incomensuráveis. Porque seria tão difícil caminhar em frente quando só queria voltar atrás no tempo? Porque é que ela lhe havia dito que seria para sempre e partira sem esperar por ele?
Sentia-se pesado, revoltado, vazio. Queria desesperadamente poder telefonar para aquele lugar incerto, ouvir a sua voz doce e ordenar-lhe que voltasse. Sim, era uma ordem, voltar e preencher de novo as suas vidas! Simultaneamente, a gargalhada do pequeno Dinis, enchia-lhe a casa, a alma, a vida. Era o som que bastava para uma espécie de Natal perfeito, para ele e para os que haviam ficado também de coração apertado.
Queria mentalizar-se de que a Sofia estaria ali durante toda a noite a ouvir as conversas entre neto e avó babada, a rir à gargalhada quando o Dinis cuspisse a sopa e sujasse o macacão natalício que teria vestido, de xadrez verde e vermelho. A tentar adivinhar quem seria o seu amigo secreto desta vez, a consolar-se com os coscorões da avó Matilde e a rir. A rir muito como sempre fazia. Uma gargalhada que aquecia mais do que qualquer lareira em noite de consoada. Uma gargalhada que se apagara e esfriara para sempre parte da sua alma.
Era a vida. Frase que repetia para si sempre que estes pensamentos lhe irrompiam pela ideia adentro. Era a vida a seguir, a continuar, a prolongar-se e a querer dar-lhe um motivo mais que válido para ficar. O seu lugar era ali, junto do seu melhor presente. O Natal estaria em si, tal como a Sofia, cada dia mais um bocadinho. O Natal era amor, que mesmo invisível, não estaria ausente.
Pior do que algo mau, é algo impotente. Li duas vezes só para esquecer de novo.
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