Nas minhas veias corre um desejo louco de fazer acontecer, de chegar, ver e vencer não sei bem o quê, não sei bem como. Sei de sobra para saber que quero. Quero e pronto. Sem medida mas com tempo e hora marcada. Um querer imaturo, frágil na fraqueza dos dias, onde falta lugar e ocasião.
Falta uma noite estrelada, de cabeça pousada na areia e ouvidos à bolina dos rugidos do mar, compassados por gargalhadas intermináveis. Falta que o fresco sabor da menta se aloje na minha língua e se me desça até ao estômago, provocando longos arrepios, inertes à passagem do vento, incólumes ao correr dos anos.
Falta saber o que falta e falta que deixe de faltar. Falta juntar as peças no devido lugar, montar a lente e olhar. Olhar de novo, olhar melhor, olhar a fundo noutros olhos, noutros lugares e paisagens. Sentir a brisa certa, o cheiro da terra molhada e estar segura de que a chuva não vai voltar.
É preciso mudar. Mudar a disposição dos móveis, o lugar das roupas, organizar os pensamentos, manter apenas o que faz falta; uma cadeira confortável, dois ou três vestidos de verão e ideias construtivas. Tudo dentro de uma mochila e seguir sem arrepiar caminho, seja ele qual for. Mesmo descalça, hei-de encontrar os meus sapatos durante a viagem. Basta acreditar que a vida sabe o meu número.
Metáfora deliciosa essa com que terminas. Sim, a vida há-de saber o teu número, partes descalça, mas, algures a meio do percurso, não importando as marcas que tenhas para mostrar no momento, os teus sapatos vão servir-te na perfeição.
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