Era pequenina, de cabelos lisos, longos e sorriso triste bem vincado no rosto. Todos o notava, menos ela; demasiado ocupada a olhar atentamente cada uma das suas perfeitas imperfeições.
Era pequenina, de olhos brilhantes e coração sem medida. De tão grande, o seu coração abrigava todo o mundo, excepto o seu e isso doía-lhe, apertava-lhe o peito, corroía-lhe a alma, já tão gasta de pensamentos repetitivos e turvos.
Era pequenina e, num salto, cresceu ao olhar-se no espelho. Viu o que nunca vira, por mais que lhe falassem dessa existência. Cresceu, tornou-se segura de si e, pela primeira vez, viu o Sol iluminar-lhe o rosto, pousando sobre os seus olhos cor de mel. O sorriso triste dera lugar a uma gargalhada interna constante que se notava de longe, a cada vez que sorria, fazendo formar aquelas covinhas bem perto da boca. Naqueles olhos passara a ser Verão todo o ano e, agora, a menina, outrora triste, distribuía sorrisos por todo e cada lugar onde passasse.
A menina, pequenina, tornara-se gigante dentro de si mesma. Um verdadeiro monstro de amor próprio, pronto a caçar cada sorriso triste, cada lágrima perdida.
De pequena a gigante, a distância era escassa. Bastara-lhe querer percorrê-la para que o seu mundo mudasse.
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