Gritei, insultei, peguei na chave do carro e corri, na tentativa de fugir da chuva. Não fechei a porta de tua casa; sabia que, de alguma forma, o farias.
Entrei no carro. A água escorregava pelos vidros como que querendo limpar tudo o que acabara de acontecer dentro daquelas quatro paredes. Olhei em volta. A chuva era cada vez mais intensa e o vento fazia baloiçar as copas dos plátanos que cercavam o bairro.
E se fosse aquela a última vez que nos víssemos?
A pergunta ecoou na minha cabeça durante alguns minutos. Foram os minutos suficientes para que entendesse que arrancar com o carro não seria a atitude mais sensata. E se não te voltasse a ver, seria aquele azedume que iria querer que sobrevoasse a nossa despedida?
Saí do carro a correr em direção à tua porta, já fechada. Toquei à campainha e senti a tua presença do outro lado. Abriste de imediato e abraçaste-me, com o abraço forte do costume, capaz de envolver e proteger uma cidade inteira.
- Gosto muito de ti. - murmurei.
Estas palavras bastaram para apagar uma mágoa sem lugar para existir. Bastaram para que entrasse em tua casa e para que, de novo, nos sentássemos à lareira, juntos, a observar a chuva lá fora, o baile das folhas ao som do vento enquanto o cheiro a lenha ardida perfumava a praceta.
O dia seguinte iria, com toda a certeza, acabar por chegar sem que soubéssemos o que nos iria esperar. O teu sofá poderia até ficar vazio, mas as memórias, essas sim, encheriam aquele lugar tal como todos os lugares que, um dia, haviam sido nossos.
Agora o meu coração estava em paz, cheio de nós e da certeza de que sabias que te levaria em mim para onde quer que fosse e dormiria tranquila ao saber que, lá longe do que a vista alcança, levarias sempre o melhor de mim contigo.
Tanto como ser amor, é urgente dizê-lo.
E tu, já disseste "GOSTO DE TI" hoje?
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