A o virar-me, vi que era o Rui quem chamava aquele nome. Não queria que me visse se acordasse nem tão pouco que soubesse da minha presença ali enquanto chamava outro nome que não o meu. Pensando bem, não tinha de o fazer. Mas eu sonhara alto, demasiado alto para um mundo tão real. Procurei uma enfermeira e apressei-me a relatar o que havia presenciado para que, de imediato, o assistisse. Saí dali a correr. Fizera a minha parte, queria-lhe bem e, certamente, tudo correria bem dali em diante. O Rui voltaria a correr no parque, às suas rotinas e à sua vida independente. A partir dali, eu esqueceria qualquer mistura de sentimentos entre dois vizinhos carentes. Queria apenas vê-lo sorrir como dantes. Não voltei a visitá-lo, a vê-lo. Até à semana seguinte, a um dia de intenso stress doméstico. Passara a manhã em limpezas; com a ajuda de um escadote, trepara paredes para chegar às prateleiras mais altas da sala e aos candeeiros do tecto. Queria tudo a brilhar; cada cristal, cada biblô da