Sentada na minha cama, observo as paredes nuas à minha volta. A casa ficou despida e eu fiquei vazia. Vazia de ti, vazia de sentimentos, numa apatia intensa, num nó de sensações que não consigo desatar. O silêncio abraça-me como que um fantasma, prestes a atacar. Não fujo, fico ali. As lágrimas secaram mas os olhos continuam vermelhos, não sei se de raiva ou de dor. Olho pela janela. O tempo parece condizer com o meu estado de espírito, enfadonho, cinzento. Ouço crianças rir e desejo, com tudo o que tenho, rir também. Mas o som das gargalhadas já não existe na minha garganta, desapareceu subitamente. De tempos a tempos, um aperto no peito ataca-me como que uma faca, aguçada, bem no lugar da ferida mais aberta e sangrenta. Dói, vai doendo e, aos poucos e poucos, deixo de sentir a dor, que de tão intensa me tornou imune. Matem-me agora. Matem-me a dor e apaguem-me a memória que eu prometo seguir em frente, mesmo que presa a este lugar, palco de tantas alegrias, guardião de tantas me...