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Mensagens

A mostrar mensagens de abril, 2015

A segunda chance - parte XII

U ma semana e os olhos do Rui continuavam fechados para o mundo. Visitara-o todos os dias, sempre com a mesma esperança de o ver acordar. Levara-lhe chocolates, um mp3 com algumas das músicas que ouvia na minha juventude. Queria estimular-lhe a audição e o olfacto e acabar com aquele pesadelo em que ele ele mergulhara e no qual eu, por arrasto, mergulhara também. Por várias vezes, colocara-lhe os phones nos ouvidos, deixando-o à mercê de agradáveis melodias, mas não resultara. Esgotara as minhas ideias. Noite cerrada de sexta-feira. No sofá da sala, via televisão enquanto a Leonor dormitava no meu colo, certamente feliz por se poder deitar um pouco mais tarde do que o normal. Era adorável observá-la a dormir. O beicinho que fazia era único e enternecia qualquer coração. As suas pestanas, longas, lembravam as lindas borboletas que se mostram ao romper da Primavera.  Naquele curto espaço de tempo, imaginara o futuro enquanto a televisão ia falando sozinha. Imaginara-a mais cr...

A segunda chance - parte XI

L á dentro, duas camas. Dois indivíduos a lutar pela vida e a frequência cardíaca de cada um era compassada por um "bip" que, francamente, me arrepiava cada poro do corpo. Ele estava na cama mais ao fundo do quarto, bem perto da janela. Lá fora, os sons costumeiros da cidade. Ele, alheio a todos eles, imóvel e indolente aos tubos que lhe cobriam o corpo, transmitira-me emoções bem distintas.  A última vez que estivera num hospital, havia sido uma circunstância bem mais casual. Uma mera consulta de rotina, sem consequências ou sentimentos negativos, já que saíra de lá com a certeza de uma saúde de ferro. Desta vez era diferente. Aquele homem, com quem combinara jantar e em quem, de forma precoce, havia depositado todas as minhas esperanças de um "final feliz", tentava, a todo o custo, segurar o ténue fio que separa a vida da morte. Aproximei-me. Sentei-me no divã perto da cama e ficara a observá-lo, parada naquele silêncio. Na minha cabeça ecoavam milhões de pen...

A segunda chance - parte X

- S im. Sabes quem é? - perguntou a Cila. Congelei. Fiquei inerte perante o que acabara de ouvir. Só podia ser "aquele" Rui! O Rui que me olhava e sorria daquele jeito tão cativante e único...estaria agora numa cama de hospital?! Tinha de o comprovar. Respondi negativamente e evitei o assunto. Ao sair do salão, tinha já o cabelo reluzente em tons de mel. Sentia-me agora capaz de ir de novo a casa do Rui, tocar-lhe à campainha e perceber que não havia sido um equívoco. Ele era, com toda a certeza, apenas mais um homem, pleno de futilidades. Aproximei-me do portão. Respirei fundo e entrei, atravessando o jardim. As flores continuavam secas e o espaço, morto como dantes, trazia-me a nostalgia de há apenas dois dias atrás.  Toquei à campainha. Respirei fundo de novo. Longos segundos antecederam a abertura daquela porta por uma mulher que não reconheci. Tal como o Rui, era morena. De cabelos longos e escuros e de roupas pouco formais, mostrou-se apressada, fitando-me com ...