U ma semana e os olhos do Rui continuavam fechados para o mundo. Visitara-o todos os dias, sempre com a mesma esperança de o ver acordar. Levara-lhe chocolates, um mp3 com algumas das músicas que ouvia na minha juventude. Queria estimular-lhe a audição e o olfacto e acabar com aquele pesadelo em que ele ele mergulhara e no qual eu, por arrasto, mergulhara também. Por várias vezes, colocara-lhe os phones nos ouvidos, deixando-o à mercê de agradáveis melodias, mas não resultara. Esgotara as minhas ideias. Noite cerrada de sexta-feira. No sofá da sala, via televisão enquanto a Leonor dormitava no meu colo, certamente feliz por se poder deitar um pouco mais tarde do que o normal. Era adorável observá-la a dormir. O beicinho que fazia era único e enternecia qualquer coração. As suas pestanas, longas, lembravam as lindas borboletas que se mostram ao romper da Primavera. Naquele curto espaço de tempo, imaginara o futuro enquanto a televisão ia falando sozinha. Imaginara-a mais cr...